Estar nas redes sociais é, hoje, algo imprescindível. Essa obrigação se aplica também ao Brasil, que contém um dos maiores volumes de consumidores dessas mídias em todo o mundo. Nossa população passa, em média, 13,8 horas nas páginas das redes sociais.
Mas, tão ou mais importante que marcar presença nas mídias sociais é ter definida uma estratégia que integre os meios digital e analógico. Cada veículo digital é diferente entre si – Facebook difere do Twitter, que difere por sua vez de LinkedIn, e assim por diante –, mas é possível, apesar das diferenças, complementar os meios. Televisão e Twitter, por exemplo. Durante uma partida de futebol, um processo de marketing tradicional é capaz de contemplar o seu período de ocorrência. Compra-se o jogo para a realização de inserções no horário de transmissão, porém a discussão sobre ele começa muito antes, também durante e por algum tempo depois. Os torcedores se ocupam em provocar seus rivais antes, durante e depois dos jogos: a brincadeira (e a repercussão) dura muito mais tempo que a própria partida. Na verdade, esse tema específico dura por horas, às vezes dias, antes que o evento ocorra, e muitas horas e alguns dias depois.
Essa realidade muda bastante, em primeiro lugar, a maneira como se faz comunicação. Em segundo – e essa é uma ameaça para quem ainda se encontra em um mundo inteiramente analógico –, muda também a importância mercadológica que esse simples jogo possui. Concentrar-se apenas no evento faz com que se perca uma enorme oportunidade de comunicação nos períodos que o antecedem e o ultrapassam. Se você fizer uma comunicação na linguagem e no momento adequados – não adianta parabenizar ou fazer uma grande cerimônia somente sete anos após alguém ter realizado algum feito! –, então o potencial das redes sociais consegue se mostrar quase que por completo.
Nem mesmo a televisão é capaz de oferecer tanto dinamismo e agilidade. Enquanto a vergonhosa exibição que resultou nos sete a um aplicados pela seleção alemã de futebol ao Brasil pela Copa do Mundo de 2014 seguia para o intervalo comercial, as propagandas que diziam “joga pra mim” e “mostra tua força, Brasil” chegavam a causar algum constrangimento, efeito que a mídia digital permite reverter por atuar em tempo real – e evita-se assim que se paguem mais micos ainda!
Da mesma forma, as mídias digitais não podem desempenhar o papel da televisão, do rádio, do jornal ou de qualquer outro meio tradicional. É comum entrar nas páginas das empresas e observar postagens sendo utilizadas como se o espaço fosse destinado ao típico press-release (comunicado de imprensa). Muitos daqueles que usam as mídias sociais não entendem se tratar de um conjunto de ferramentas que se configuram como meios muito particulares, mantendo clara diferenciação para o jornal; em vez disso, tentam impor o padrão de um ao outro, indistintamente. Não é assim que se faz mídia social: o intuito desses canais é, grosso modo, compartilhar e interagir. Na rede social, as empresas devem compartilhar e interagir com o público, não fazer comunicados de imprensa.
Por isso, as empresas devem estar preparadas para receber críticas, debater e/ou expor pontos de vista publicamente, ou seja, verdadeiramente dialogar com o público. Não basta simplesmente chegar até Facebook, Twitter ou qualquer outro canal digital e começar a postar comentários indistintamente. É necessário preparar-se antecipadamente para atuar nas mídias sociais, perguntando-se: eu tenho um planejamento? Imagine-se trabalhando para uma empresa aérea. Na página do Facebook vinculada a ela, você, responsável pela sua gestão, faz propaganda de viagem e turismo. Certo dia, um acidente de proporções importantes ocorre, fato que destoa por completo do que é normalmente veiculado; faz-se necessário, então, compartilhar a notícia de alguma maneira, e não adianta fazer propaganda de um passeio paradisíaco ou destino encantado quando um acidente horroroso acaba de afetar sua companhia. Por essas e outras razões, é necessário estar protegido para evitar que uma estratégia meramente contemplativa, produzida de antemão, continue operando, do contrário as reações se tornam desgovernadas e todos acabam “batendo cabeça”, sem que um plano de crise previamente preparado possa salvar sua equipe.
No caso do jornal, não há muito remédio: após sua impressão, horas separam as manchetes daqueles fatos que estão ocorrendo no exato momento de sua leitura. Na internet, os fatos e notícias podem e devem ser divulgados em tempo real. Se você redige algo quatro horas atrás e o mantém no ar mesmo após algum outro fato ter mudado completamente o seu contexto, fica clara a falta de planejamento. O mundo em tempo real é diferente. Ele exige que ações e reações ocorram de imediato. A falta de planejamento incorre na seguinte situação: ainda que um redator ou outro jornalista tome ciência das novas circunstâncias, todo o processo que norteará as ações continuará a ser analógico: “avise lá ao editor que a matéria precisa ser trocada”, e a resposta pode ser “mas já estava programado” ou “o anunciante já pagou”; nesse impasse, já se foram mais duas horas. Se alguém fizer uma captura de tela através do comando de print screen dessa gafe e resolver divulgá-la, você estará diante de uma mancha para a marca que você defende. Esse é o tipo de fardo que uma empresa de mídia, segmento que se propõe a ser atualizado e lidar com informação, não deve ficar muito contente em carregar. Quaisquer mensagens futuras ficarão marcadas pela baixa credibilidade associada ao evento negativo.
Quem trabalha ou pretende trabalhar com comunicação, marketing, propaganda ou coisas do gênero, deve ter em mente que suas ações precisam se refletir de alguma maneira para a organização da qual faz parte, seja em forma de imagem, seja em forma de resultados práticos. Embora não seja uma tarefa muito fácil traçar a correlação entre uma propaganda e o aumento de vendas, de alguma maneira é possível fazer as devidas mensurações – desde que se estabeleçam as métricas necessárias.
O processo de mensuração com o qual os profissionais das mídias tradicionais estão acostumados não é o mesmo em relação às mídias sociais. “Número de leitores”, por exemplo, não é uma métrica que faça sentido para o marketing digital. O número de visualizações, fazendo uma equiparação, não representará, sozinho, muita coisa, pois o visitante pode simplesmente ter entrado em uma página e ter ido embora (bounce rate). Transpor a métrica de um meio para outro não é, portanto, o melhor caminho.
Como então proceder nesse caso? Talvez se deva buscar uma métrica que represente de fato que o visitante ou usuário esteja efetivamente observando uma matéria ou propaganda, ou clicando em algum botão. De que adianta criar uma propaganda que não despertou a atenção do público? Nas mídias digitais, as empresas disputam um dos recursos mais escassos existentes: o tempo. A disputa pelo tempo independe da classe social a que pertence o público: bilionários não podem comprar 48 horas por dia apenas por terem mais dinheiro. Dispondo do mesmo tempo de todo o restante da população, ele utilizará seu tempo da maneira que lhe for mais conveniente.
A mensagem deve, portanto, ser suficientemente criativa para valer a pena, com alta capacidade de despertar interesse e cobrir satisfatoriamente o tempo nela investido. Vamos supor que um profissional de mídias sociais tenha feito uma campanha promocional e observe um aumento nas vendas e no sentimento positivo sobre a marca. Ele tentará correlacionar sua ação àquelas consequências, e deverá fazer isso através de ferramentas de análise de dados. Para medir o impacto da campanha sobre o sentimento da marca, por exemplo, utiliza-se mecanismos de captura de textos e avalia-se se o viés das mensagens foi majoritariamente positivo ou negativo, comparando os índices ao de um período anteriormente avaliado – e para entender um problema real, nada melhor que ouvir o que o próprio cliente tem a dizer. É preciso explorar todo o contexto que as mídias digitais oferecem. Promover as mesmas métricas empregadas nas mídias tradicionais não vai ser útil para o marketing digital. Portanto, é necessário planejar não apenas as ações para desenvolvimento, mas também as métricas que devem ser utilizadas e de que forma será possível provar a efetividade do caminho traçado. Pergunte a si mesmo: Estou utilizando as mídias adequadas? Estou investindo a quantidade certa de dinheiro? Será que o meu público é esse? Uma clínica geriátrica talvez não precise investir tanto no Twitter…
Muitas organizações não possuem critérios adequados para investir nas redes sociais. Em alguns casos, elas entram em todas e atuam de maneira semelhante; em outros, não adotam nenhuma, e perdem canais de enorme potencial de comunicação; por fim, há aquelas que entram em algumas, simplesmente por questões de gosto particular ou para imitar a concorrência. Reunir rapidamente um grupo de pessoas de comunicação e dizer “vamos participar do Facebook”, depois, “vamos participar do Twitter” é um caso evidente de despreparo. Como esses profissionais saberão lidar com um público que muito provavelmente desconhecem?
Quem está nas mídias sociais pode ser classificado de acordo com inúmeras categorias. Há uma geração digital, que possui intimidade fantástica com a tecnologia e seu modelo mental já está ajustado a este mundo. Mas há também o pessoal do mundo analógico, que pode ainda ser classificado em subcategorias – e não necessariamente por idade, mas principalmente pela maneira como interagem com o mundo digital: há os “naturalizados”, pessoas anteriores à ubiquidade da web, mas que, por possuírem intimidade com tecnologia, se inserem com alguma facilidade, embora mantenham resquícios do mundo analógico; os “migrantes” são aqueles que, apesar de marcarem presença no mundo digital, ainda guardam em si muito do mundo analógico, sem utilizar a internet com grande confiança; os “turistas” são os que utilizam a World Wide Web para o mínimo necessário (alguém que entra no Facebook, dá um “like” para alguém e vai embora, logo regressando ao ambiente analógico); e há o “eremita”, aquele que só será alcançado pelas mídias tradicionais, não possui celular, computador ou qualquer coisa do gênero. Excetuando-se esse nicho, o restante depende de uma linguagem adequada.
“Que tipo de produto estou vendendo?” – uma empresa esportiva, por exemplo, exige uma estratégia digital distinta da de uma varejista. Ainda que se tratem simplesmente de lojas, cada uma recebe um público com interesses específicos. Quem visita uma loja de produtos esportivos procura por artigos de esporte, mas isso não é tudo. Esse público também busca por mais informações, diálogo com outras pessoas (sobre corrida, futebol ou temas relacionados) e interação em uma comunidade que compartilhe dos mesmos interesses, especialmente com aqueles indivíduos que se aprofundam nos temas. Portanto, a página dessa empresa reunirá não apenas consumidores, mas curiosos que procuram se especializar e ir mais a fundo nas práticas envolvendo os seus exercícios físicos. Já o público de varejo possui outro tipo de objetivo. Ele está mais interessado na busca de preços para eventuais comparações com produtos oferecidos por outras lojas, e raramente destinará muita atenção a maiores explicações naquele ambiente (embora o faça em outros lugares). Para atraí-lo, é preciso utilizar outro tipo de estratégia de comunicação, talvez investindo o foco nos preços e nas garantias dos produtos.
Tudo isso deve estar previsto no planejamento inicial. Quem é o público? Como vou alcançá-lo? Que tipo de informação esse público quer? É preciso ter a visão de onde se pretende chegar. “Queremos estar no Facebook” é bom, mas insuficiente. A tarefa não é tão simples quanto parece – ocorre que, na maioria das vezes, os responsáveis a desempenham de maneira simplista, o que é bem diferente e explica as bobagens que vêm sendo feitas por aí. O primeiro passo é pesquisar bastante e passar a conhecer bem sobre o assunto para ter boas histórias a contar.
Para contar boas histórias, devemos desenvolver a habilidade de ilustrar situações (mesmo os textos, nada mais que representações descritivas, atuam assim). Nós somos seres visuais e reconhecemos rapidamente imagens. Por outro lado, quando apresentamos uma planilha em formato de texto, acabamos por não conseguir chamar a atenção da maneira como desejamos, seja para destacar um dado específico, seja para conhecermos o caminho a seguir (o que fazer e o que não fazer). Tudo o que puder ser feito visualmente terá efeito extremamente positivo. Um diagrama facilita classificações sobre oportunidades, tendências e o que mais for – ao contrário do texto corrido, cuja essência abre espaço para que, ao chegar ao final, o leitor tenha esquecido aquilo que viu no início. O apelo visual é excelente, por exemplo, para tomadas de decisão e identificar contradições, por estar muito alinhado com o nosso modelo mental: nosso cérebro é preparado para identificar padrões. Diagramas são, portanto, atalhos para a identificação de padrões. Esse livro representa uma ferramenta importante para a construção do pensamento visual e o seu desdobramento em planejamento de marketing digital.
– Cezar Taurion
Autor de sete livros pela Brasport, destacando-se Big Data e Cloud Computing: Transformando o Mundo da Tecnologia da Informação
Rio de Janeiro, agosto de 2014.